Estamos muito contentes de que Anahita Sarabhai seja a mais nova integrante da equipe do FRIDA. Caso não tenha visto o comunicado, por favor, clique aqui para saber mais. Anahita passa a fazer parte do FRIDA, como sua nova co-diretora executiva, em um momento crítico para a filantropia e para o cenário político global. Dar voz e financiar o ativismo de jovens feministas é mais urgente do que nunca, pois estamos lutando contra sistemas de vigilância crescentes, em meio a uma pandemia que parece não ter fim. O bem-estar do nosso planeta está literalmente nas nossas mãos. Estamos trabalhando para transformar o ecossistema de financiamento imediatamente e radicalmente. Nesse sentido, gostaríamos de ouvir e conhecer melhor Anahita. Quais são as suas inspirações? O que acha da filantropia feminista? Que conselhos de autocuidado poderia compartilhar conosco? Confira tudo isso nesta animada conversa e junte-se a nós neste bate-papo.
- Conte-nos uma história sobre sua infância e sobre como foi a sua tomada de consciência feminista.
Lembro de uma noite na sala de estar da minha avó materna, quando eu tinha cerca de 11 anos, rodeada de 4 gerações de mulheres do lado dela da família. Um encontro especial, cheio de risadas, memórias, histórias, e de uma alegria e força muito livres. Ouvi-as com admiração, todas elas feministas convictas trabalhando para mudar o mundo de maneiras muito diferentes e junto a pessoas de identidades diversas. Contemplar seu amor coletivo, solidariedade, indignação e compromisso com a mudança, foi um daqueles momentos em que eu vislumbrei aquilo que eu sabia que faria com minha vida.
- O que faz com que jovens feministas sejam uma força que não pode ser ignorada?
Nossa certeza de que existe algo melhor para nós e que coletivamente podemos chegar lá. Nossa capacidade de imaginarmos futuros que nunca vimos antes ou que nunca foram criados. Nosso trabalho para conhecer e compreender como o mundo funciona, enquanto buscamos alternativas mais justas, interseccionais e criativas. Nossa capacidade de sermos vulneráveis, mas encontrarmos potência e cura em tudo aquilo que sentimos, mantendo a luta como parte do nosso dia-a-dia. E finalmente, nossa alegria e amor pelo mundo e entre as pessoas.
- Quais são as três músicas que não saem da sua cabeça?
Chaap Tilak da Abida Parveen e Rahat Fateh Ali Khan
Tú sí sabes quererme da Natalia Lafourcade
- Qual é a melhor lembrança que você tem com o FRIDA?
Foi quando participei da Re-Conferência CREA através do FRIDA. Isto aconteceu logo após um momento especialmente difícil para mim, e me fez lembrar o quanto eu amo fazer o trabalho que faço. Conheci muitas pessoas da enorme família FRIDA, um grupo diversificado e amoroso de pessoas, e encontrei ali meu lugar e muita alegria. Foi um despertar de alguma forma para mim. Uma viagem inesperadamente agitada e plena, pela qual sempre sentirei muita gratidão.
- Você gosta de cozinhar? Qual é o prato que você normalmente faz para as pessoas?
Eu AMO cozinhar! O prato que eu gosto de fazer para as pessoas é uma patê de alcachofra com espinafre, ou quiche de espinafre e cogumelos.
- Como uma pessoa queer com deficiência, por que acha que é importante você ocupar uma posição de liderança no âmbito da filantropia?
Para começar, acredito piamente no poder da representatividade, e acho que o fato de pessoas com múltiplas identidades marginalizadas como eu estarem chegando a estas posições é de grande importância; nos permite ter uma diversidade de vozes nos espaços e trazer para as mesas de discussão as pessoas mais afetadas, que sofreram opressão historicamente, e sempre estiveram lutando por recursos mínimos. O mundo da filantropia é repleto de estruturas de poder complexas que normalmente nos invisibilizam e nos oferecem menos dignidade, a menos que a gente cumpra com os critérios estabelecidos pelas pessoas que estão no poder. Pessoas como eu, em funções como estas, têm a oportunidade de reinventar essas hierarquias de poder, trabalhando a partir de dentro, trazendo nossas realidades interseccionais, nossas diversas histórias e sabedoria para influenciar a tomada de decisões de dentro para fora.
- Uma prática de autocuidado que gostaria de compartilhar conosco.
Adote uma planta! Passar algum tempo diariamente com as plantas, conversar com elas, podá-las, limpá-las, arejar o solo… no fundo, se engajar em qualquer ação de cuidado e afeto através das mãos. Colocar as mãos na terra é excelente para se conectar com a gente mesma.
- Quando a filantropia se torna feminista? Como podemos coletivamente fazer da filantropia um lugar mais feminista?
É necessário existir um entendimento e reconhecimentos claros das hierarquias de poder inerentes ao trabalho filantrópico. Reconhecer os diferentes contextos e necessidades, adaptando o trabalho a ser feito, mantendo-se flexíveis diante dos cenários sociopolíticos instáveis em que as pessoas vivem e trabalham. Criar espaços para essas pessoas de maneira embasada e construída, sempre junto com elas, reconhecendo sua experiência e saberes.
- O que faz do FRIDA um fundo diferente? Por que se candidatou a esse trabalho?
O FRIDA tem uma visão de mundo tão corajosa, uma certeza sobre a potência da mudança e das pessoas que a fazem acontecer, sua capacidade de ser um fundo aberto, onde há constante reflexão, que desafia as velhas normas e abre novos caminhos, e aceita e aprende com os erros como parte do processo. Para mim, estas são as coisas que mais fazem com que o FRIDA se destaque.
Das muitas razões pelas quais me candidatei a esse trabalho, talvez a principal tenha sido a de atender a uma necessidade. Durante o último ano ou dois, senti a necessidade de levar o trabalho e a experiência que tenho para um espaço onde pudesse colaborar com colegas e companheires e crescer juntes. Um espaço que eu respeitasse e do qual eu me orgulhasse, cuja comunidade se apoia e luta junto diariamente. O tipo de trabalho que fazemos requer que as pessoas se sintam protegidas, reconhecidas, e que possam ser seus verdadeiros eus. E na comunidade FRIDA tudo isso me parecia possível.
- Qual é o seu desejo para 2022?
Sentir-me inspirada e inspirar cada vez mais jovens do mundo inteiro a estarem bem e a encontrarem sua alegria e sua força, para que possam se juntar à revolução da empatia e da indignação, tornando este mundo um lugar do qual possamos nos orgulhar e chamar de nosso.
Estamos muito felizes em poder acompanhar o desenvolvimento de Anahita neste trabalho, ao lado da Majandra, e que juntas desempenhem um papel fundamental para que o FRIDA continue a ser reconhecido como como um fundo liderado por jovens feministas de muita potência. Queremos aprender com a sua experiência, conhecimentos e brilho próprio, conspirar coletivamente e colocarmos magia feminista em tudo o que cocriamos, todos os dias, e em tudo o que fazemos. Vamos em frente, que atrás vem gente!